
Nesta quarta última(15/08/07) foi exibido, no cineclube vinculado a Cesma, o filme Querelle:ALE/FRA(1982). O diretor, Rainer Fassbinder, faz parte do cinema novo alemão, e em seus filmes está acostumado a tratar das paixões intímas de suas personagens como forma de abordar o retrato de uma época. Se atém, especificamente, a década de 1970 e às marcas que ficaram nesta sociedade pós-guerra, testemunhando suas dificuldades economicas, políticas, morais e sexuais. Técnicamente, Fassbinder é um grande diretor de cena, com planos minuciosamente desenhados sempre objetivando causar um forte impacto estético na tela.
Na adaptação da obra homônima de Jean Genet, Querelle, é um filme que se configura o mais homossexual da carreia deste diretor, assumidamente gay. A personagem principal do filme é um marinheiro amoral, interpretado por Brad Davis de "O Expresso das 24h", que provoca paixões avassaladoras tanto em homens quanto em mulheres, entre elas a dignissíma atriz francesa, Jeanne Moreau. As vítimas de seu charme tendem a sentir uma forte pulsão de morte.
Esta personagem, então, poderia muito bem encaixar-se num esteriótipo da pós-modernidade, pois transita entre várias identidades sexuais, sem definir-se durante todo o filme, justificando-se pela eterna busca pelo prazer, lema desses novos tempos em que vivemos, ou acreditamos viver.
Traçando um paralelo entre o que é exposto no filme e os escritos do sociológo Norbert Elias na obra Os Alemães, podemos afirmar que o aumento extraordinário das riquezas nacionais, durante o século XX, e sua conseqüente distribuição acarretaram uma maior preocupação com coisas que antes nao estavam em pauta, como as desigualdades socias, sexuais e religiosas. Conseqüentemente, houve uma perda do poder por parte de setores outrora consolidados, como a sociedade patriarcal ou mesmo a aristocracia que deu lugar a uma república democrática alemã. Surgem, então, alguns movimentos de emancipação como o feminismo, luta pelos direitos homossexuais, países explorados colonialmente, em contexto alemão. Tudo isso gera uma incerteza de status e uma crescente busca de identidade social em uma sociedade onde se operam diversas mudanças muito velozmente. O século XX, portanto, foi o século da instabilidade. O filme se encaixa nestes conceitos à medida em que expõe uma personagem envolta nesta sociedade da incerteza, em meio a um mundo tão artificialmente construido, quanto o cenário de Querelle. Tudo seria conseqüência de uma sociedade que carrega traumas e que desde a década de 1940 vem tentando reconstruir a sua auto-imagem.
5 comentários:
Ta ficando boa nisso heim Pequena...Ótimo texto. Pena que a aula do Claudião me impediu de ver o filme. Beijo. *orgulhoso*
Mas, pelo menos, aprendi sobre "razão marginalista", "multiplicador", "utilidade", hahahaha. te amo.
Hoje seria exibido no Ciclo de Cinema 2 na UFSM, outro filme do Fassbinder(com dois "s" e não um como aparece no titulo do texto): Lola!!
Ah entao esse é o tal Querelle.. mas num conheço. E também nao fui ver :~~~
Bjoooo :*
Elisa, atriz, modelo, manequim e blogueira tbm.
:)))
Assisti esta semana. "Todo homem mata aquilo que ama". Angustiante o filme.
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